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Porco Nobre – Nobre Bacon

27 Jul

Em nossa procura incansável pela batida hambúrguer perfeito (parece que agora a cada novo artigo temos que fazer uma referência ao Planet Hemp/Marcelo D2?), existem barreiras intransponíveis, como a geográfica (começando por Curitiba, pra ficar mais fácil), a do hambúrguer de soja (não vão me fazer encostar num troço desses), a do hambúrguer de frango, a da picanha fatiada, e por aí vai. Mais do que limitar nosso escopo, nos oferece foco e palpabilidade dos resultados – e isso qualquer pesquisador científico pode confirmar. Por outro lado, existem também arestas, terrenos em aberto pelos quais podemos adentrar caso a força das circunstâncias os provem necessários. Por exemplo, as inúmeras redes de fast-food, os hambúrgueres do Sesc, o hambúrguer que a sua mamãe faz pra você (aceitamos convites pro lanche!), enfim, um mundo de possibilidades.

Dito isso, é preciso ressaltar que eu não sei direito em que categoria o Porco Nobre se encaixa. Um híbrido entre podrão, hambúrguer gourmet e fast food, o restaurante contempla o melhor e o pior das três categorias, e isso não é nem um elogio nem uma crítica, antes de tudo uma observação sobre a natureza dessa pequena rede curitibana de duas lojas. O diagrama que eu fiz exemplifica melhor o meu ponto de vista.

good burger

Eu não sei direito sobre a história do Porco Nobre, mas os mais antigos dessa cidade me dizem que ele começou na Rua 24 Horas, esse pedaço mágico para a sociedade curitibana, uma galeria de lojas supostamente abertas dia e noite que emula a sensação de andar numa rua coberta, calçada, monitorada, climatizada e com portas automáticas nas duas pontas. Enfim, uma rua como outra qualquer (%) (eu gosto de usar esse símbolo % para apontar uma ironia, para os mais intelectualmente lentos não ficarem de fora da piada. Democracia passa também pelo acesso às bobagens). Depois que a rua se tornou ponto de drogas e travestis e caiu de vez no ostracismo, forçando seus comerciantes a fecharem as portas da esperança de ver curitibano na rua, o Porco Nobre estabeleceu sua matriz no Água Verde, onde está até hoje, até voltar para o lugar de origem – de novo, isso foi o que me contaram. Novidade das novidades, fomos para a 24 porque a rua é nóiz.

E aqui vem a questão: a nobreza do Porco Nobre, que ostenta o estandarte de um aristocrata suíno com cabelo engomado e gravata borboleta, nascido para servir, morrer e servir outra vez, se estende a todos os sanduíches do menu? Porque uma coisa são os sanduíches de pão com salsicha, linguiça, pernil desfiado (meu favorito, pessoalmente, mas aqui o assunto é outro), todos requintados e minimamente originais, outra coisa são os tradicionais e conservadores (aqui em Curitiba essas duas palavras não são tão sinonímicas assim) hambúrgueres com mínimas variações. Um bacon aqui, um ovo ali, uma porrada de salada acolá, enfim, as operações básicas da gastronomia hamburguesca (falei que era um pouco podrão também). Já que o lance não é esperar ousadia, vejamos a destreza da mão desses chapeiros de mais-valia mamada. Minha escolha foi o Nobre Bacon, que como o nome diz, tem bacon. E se tem bacon, tem charme (pode, pode copiar essa frase e colar no seu facebook/fazer uma camiseta), por isso apontei meu dedo gordo no cardápio pra moça do caixa anotar meu pedido, que chega à mesa pouco menos de dez minutos depois, dessa forma.

Porco Nobre

Ora, apresentação, como já bem dissemos algumas vezes, é essencial. Mas que diabos é isso? Um hambúrguer embrulhado para presente? Um resquício da faceta fast-food do restaurante? Um fetiche pseudo-islâmico de cobrir tudo o que é gostoso? Um artefato para aumentar nosso desejo e ansiedade? Não sei, estou aqui para comer, não para interpretar os mistérios do decorador mutcho louco que esconde o hambúrguer mas não embrulha as batatinhas. Sem o papel, seria apresentado assim:

porco nobre

Pra não dizer que não falei das batatinhas, aliás. Batatas românticas, daquelas pelas quais Lorde Byron baba. Pálidas, bucólicas, mergulhadas no óleo ainda congeladas, flertando com a morte e com a vida, fumando ópio pelas lúgubres esquinas de Londres. Batatas que têm lá sua consistência e seu sabor, mas nada parecido com o padrão de beleza de batata frita que temos hoje. Há quem goste, porém, e eu não faço objeção.

E aí temos a questão da salada. O que era para ser coadjuvante virou um protagonista wanna-be, daqueles que querem roubar a cena a todo momento. Isso acontece, experimenta ver um filme em que o Jack Black faz um papel secundário pra ver se você também não fica com raiva. Tem gente que curte atenção sobre todas as coisas, e isso nem é legal. A salada veio em uma quantidade exagerada, quando deveria ser somente, na minha cabeça, um quinto do sanduíche. E o pior de tudo foi o tomate, que roubou o gosto de todas as coisas, gelado e ácido. Mas isso não é necessariamente culpa do restaurante pois, se vocês são antenados no noticiário de economia, o tomate está caro e feio por causa do frio. Não é uma época boa para comer tomate, e eu recomendo a vocês pedirem para tirar os tomates dos sanduíches por esses dias e esperar o calorzinho voltar às lavouras. A maionese, entretanto, salvou um pouco o resto do sanduíche fagocitando parte do tomate.

Não esperava outra coisa do pão. Aquele tipo seco e industrial que conhecemos dos lugares sem gente competente para botar a mão na massa. Tava tudo indo muito bem até chegar no miolo. Aí tudo degringolou, o pão se partiu sozinho em diversos pedacinhos, a carne idem, a alface se esparramou e o jeito foi juntar tudo como se estivesse comendo farelo de tabuleiro. Nada agradável.

O bacon, por outro lado, é mais do que agradável. Aquele bacon na medida certa, nem mal passado nem esturricado e escuro, mantendo sua integridade na língua de carne que ostenta pendurada para o lado de fora do pão. O problema é que no minuto que o bacon sai do âmago do sanduíche, fica gelado. E bacon gelado é igual assassinar o arquiduque Ferdinando: é guerra. Então, para a segurança dos demais, mantenha seu bacon afivelado dentro do hambúrguer.

Por último a carne. Na verdade, por último deveria mesmo ser o queijo, mas uma coisa estranha acontece: não tenho qualquer memória do queijo do Nobre Bacon. Lembro vagamente de uma mussarela que cobria sem pressa a carne, mas nada que tenha deixado impressões mais marcantes. Talvez esse seja o destino de toda mussarela, afinal, o queijo regular, o primeiro que vem à mente quando o assunto é queijo. Acho que não tinha muito, mas é só. Lembro, sim, de haver um presunto. Como eu odeio presunto em hambúrguer, O-D-E-I-O. Nada me diz mais “eu sou um incompetente na arte do hambúrguer e aprendi tudo o que eu sei vendo o chapeiro que estacionava seu Fiat Prêmio branco e velho na frente do estádio e fritava hambúrguer numa chapa instalada no porta-mala com um pequeno botijão de gás” do que enfiar um presunto no meio do sanduba. Percam essa mania, gente, percam.

Agora, a carne sim, dessa me lembro bem. Uma carne cuja textura se assemelha em vários aspectos à do McDonald’s, com aquela crosta esturricada que descasca aos pequenos pedaços para revelar um interior cinzento e inútil sem a parte de fora, que conserva o sabor da fumaça e de hambúrgueres passados que deixaram sua marca na chapa. Isso é hambúrguer congelado e descongelado ao longo do dia, perdendo aos poucos sua propriedade de carne e sua integridade física. Uma carne minimamente saborosa, que poderia ser feita em casa pela mamãe ou por um chapeiro semi-escravo de 17 anos pagando as prestações do aparelho ortodôntico inter-ligável enquanto estuda via correspondência para o curso de auxiliar administrativo pelo Instituto Universal Brasileiro e tenta reatar com a namorada grávida pela sétima vez (todo o meu respeito por esses guerreiros da vida) no McDonald’s mais próximo de você. Só que com um toque caseiro.

No final das contas, o Porco Nobre é um bom lugar para se comer outros sanduíches, porque hambúrguer não é mesmo o forte do lugar. Não que seja uma experiência desagradável, longe disso, mas falta amor e falta liga no Nobre Bacon. Recomendo pra quem curte uma parada monstro e não se sente especial no McDonald’s, não se sente confortável no meio de gente rica em hamburgueria gourmet e não se sente seguro em podrão.

Ficha técnica:

Nobre Bacon

Ingredientes: “Hamburger, queijo, presunto, bacon, maionese e salada”

Preço: R$16,90 o combo com batata frita e refrigerante. Vale, hein?

Ponto alto: Lanche grande, misterioso envolto no papelzinho, preço bom.

Ponto baixo: Pão que se despedaça, queijo esquecível e carne com pouco sabor.

Avaliação: C-.

O Porco Nobre fica na Rua 24 horas, entre a Visconde de Nácar e a Visconde do Rio Branco.  (41) 3224-1022.

 
10 Comentários

Publicado por em 07/27/2012 em Uncategorized

 

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10 responses to “Porco Nobre – Nobre Bacon

  1. Guilherme Sobota

    07/27/2012 at 12:10

    Ae, Yuri, muito massa (sem trocadilhos). Vim aqui deixar uma sugestão, visto que eu e minha digníssima namorada também temos grande afinidade com hamburgeres e percorremos a cidade (ultimamente, seguindo algumas dicas daqui! hehe) em busca do sanduíche realmente saboroso.

    E na nossa humilde busca encontramos o lugar que se não fosse por um detalhe estaria próximo à perfeição: o Elvis Costella (http://www.elviscostella.com.br/).

    Sempre penso na Elizabeth Costello, aquela personagem do Coetzee hehe.

    Olhando lá no site, tem uma promoção de meio de semana, a qual recomendo aproveitar, porque o preço é o que prejudica o lugar haha.

    Bem, fica a sugestão.

    Um abraço!

     
  2. Bandeira

    07/29/2012 at 11:14

    Sabe, eu curto muito a ideia do blog. Isso de desbravar (gastronomicamente falando) a cidade é superb. Burger é superb. Mas, porra, é foda ler um texto desse. Muito floreio, muita onda, muita viadagem. Fica pesado, cansativo. E às vezes leva teu pensamento tão longe que teu foco vai embora pra nunca mais voltar. Tô ligado que provavelmente virá uma resposta do tipo u-mad-bro ou uma lembrança de que o blog é teu e blogs são feudos, não democracias e blá-blá-blá, mas considere como crítica construtiva. Dale!

     
    • Yuri Raposão

      07/29/2012 at 21:49

      Oi, Bandeira! Não, pelo contrário, não vou responder seu comentário sério e preocupado com gracinhas, até porque você tem completa razão. O Good Burger é, para nós, os autores, um exercício de texto opinativo e ensaio raso. Aqui, procuramos desenvolver nossos estilos, e o texto do Murilo, que é mais diretão e engraçado, contrasta com o meu, que é mais sarcástico e floreado. Então temos texto para todos os gostos dessa forma, e se você não gosta do meu estilo, pelo menos tem outro estilo que parece ser mais do seu agrado, e todo mundo fica feliz. 🙂
      Abraço!

       
  3. Rafael

    08/14/2012 at 11:35

    Uma dica infalível é preferir comparecer ao Porco Nobre do Agua Verde, la é bem melhor no comparativo com o mesmo pedido. Acredito que a origem da “rede” nasceu lá, por isso da pra dizer que é melhor. Da pra dar uma incentivada pela boa quantidade de bacon que vem nos lanches. Fora isso muito bom o blog, pretendo testar todas as opiniões e os lanches avaliados. Boa caminhada ai tigrada! Grato, Rafael

     
  4. Gerson

    09/04/2012 at 16:51

    Tinha um tempo em que até “gostava” do Porco Nobre…. Mas o atendimento é antipático, e o chapeiro um troglodita de mau com vida ; não volto nuca mais nesta espelunca, que não se dignou nem a responder minha reclamação no dia em que, ao desembrulhar o hamburguer , parecia tudo carbonizado. PÉSSIMO. Não recomendo com certeza !!!!!!

     
    • Nego Dito

      09/04/2012 at 16:53

      Oi Gerson, obrigado pela visita!
      Fez bem em deixar sua reclamação aqui, os donos das hamburguerias que visitamos tendem a ficar de olho nos comentários. Vai que dessa vez finalmente lhe fazem justiça? 🙂

       
  5. Gerson

    09/04/2012 at 18:52

    Achava que era o pior ….. Mas tem outro que alguns acham ótimo, mas é lastimável …… Fica na Av. Dos Estados, de esquina, ainda sem nome …… Triste ler comentários de picha sacos … É horrìvel lá também ….. Melhor mudarem de ramo …….

     
  6. Malrissil

    09/19/2012 at 09:32

    eu comi ontem porque li aqui no blog a sugestão e curti muito. O atendimento foi excelente e o sanduba veio rapidinho e super bem feito. Orra, q tróço gigante! Muito bom, voltarei lá mais vezes. Valew a dica pessoal!

     
    • Nego Dito

      09/19/2012 at 10:24

      Valeu, Malrissil! Sua visita e sua divulgação do nosso humilde espaço muito nos enche de alegria. 🙂
      Abraço!

       
  7. Wagner

    01/05/2014 at 21:54

    Comprei dois sanduíches no Porco Nobre da rua 24hs, um combo de frango e outro de porco. porém, quando fui comer o de porco estava com parte da carne ainda congelada e o de frango veio com carne bovina.
    Fui reclamar e a atendente só pediu desculpas e não poderia fazer nada!
    Resumindo. Paguei R$36,00 por um punhado de batatas fritas (frias) e uma lata de refrigerante…
    Lamentetavel.
    Não recomendo.

     

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