RSS

Arquivo de etiquetas: refil refrigerante

Outback – Smokehouse Burger

outback

Alguma coisa me fez repudiar o Outback desde o exato momento em que a tradicional e internacional rede de restaurantes especializados em brutalidades carnívoras se instalou no Largo Curitiba do shopping que leva o mesmo nome da cidade. Minha namorada diz que é porque a gente tentou comer lá algumas vezes e sempre tinha fila de espera de mais ou menos uma hora. Pode ser. Mas o fato é que Curitiba, em seu lento porém constante processo de globalização, têm recebido com muito festejo toda e qualquer iniciativa multinacional que resolve fixar raízes nesse vale de lágrimas e araucárias, e eu, como bom misantropo avesso à comoção popular por novas opções de consumo, tenho uma tendência natural a torcer o nariz para esse tipo de coisa.

Felizmente, nossa visita ao Outback – talvez um dos últimos lugares para irmos a pé em nossa exploração pelas hamburguerias da cidade – bastou para tirar toda e qualquer antipatia que eu pudesse vestir como uma coroa de negatividade, para citar aqui uma boa música do Tool. Do começo ao fim fomos bem recebidos e atendidos por um garçom treinado para lidar com as veleidades sintomáticas do mundo nouveau-riche, que se ajoelha para nos atender e não olhar os poderosos de cima. Ganhamos um pão australiano – um pão de centeio a base de mel e chocolate – como cortesia e o refrigerante custa R$6,95 o refil. Ou seja, refrigerante infinito.

De qualquer forma, cabe aqui uma breve explicação para quem nunca ouviu falar no Outback. Sei lá, gente que talvez é chique demais para ir ao Shopping Curitiba, mas não chique o bastante para viajar para outros lugares que possuam uma cadeia do Outback. Bom, o Outback é um restaurante australiano que, como qualquer produto cultural para exportação do novíssimo continente, é caracterizado por comidas e talheres de proporções exageradas. Algo que me diz que a coisa toda não difere do tamanho da comida nos Estados Unidos, a matriz dessa grande filial que é a Austrália, mas acho que tudo passa pela indústria cultural. Para quem não sabe, no começo dos anos 90, o país dos cangurus, subsidiado pelo país dos maníacos homicidas de colégio, começou a exportar uma série de elementos originários do país para o resto do mundo, como as lanchonetes Subway, atores como Mel Gibson e Nicole Kidman (que não são australianos, aliás) e filmes da franquia Crocodilo Dundee, entre outros. Logicamente, a coisa não durou para sempre e foi preciso reinventar a roda em matérias de exportação. A Austrália então recuperou seu lugar no mercado café-com-leite se utilizando de uma de suas maiores glórias: a pecuária bovina e ovina, que detêm os maiores rebanhos totais do mundo, perdendo apenas para países em que as pessoas preferem venerar a comida do que comê-la. Vai entender. A rede é especializada em carnes, mas não há penetração no mercado global sem variedade, e um cardápio diversificado, que conta inclusive com hambúrgueres, pode ser encontrado em qualquer loja.

Minha escolha, dentre as três opções válidas de hambúrguer picante, como bem frisou o atendente, foi um lanche chamado Smokehouse Burger. A descrição diz:

“Bem ao estilo do Louisiana, com um toque do delicioso Flame Sauce e cebolas grelhadas, que dão a esse novo hambúrguer de 200g um sabor único. Servido com alface, tomate, queijo, maionese e bacon. Ah! E com nossas fritas também! 29,90”.

Bom, antes de irmos direto ao ponto, é preciso dizer que a descrição, por mais detalhada que esteja, deixa muito a desejar por não necessariamente se adequar ao conhecimento de mundo do leitor comum. Eu, por exemplo, por mais que seja um exegeta do hambúrguer, não sei o que é um hambúrguer à moda do Louisiana simplesmente porque nunca fui pra lá, e dito isso me sinto na obrigação de acrescentar que meu julgamento está completamente comprometido, pois não tenho como comprovar que o Smokehouse Burger realmente é feito à moda de Louisiana. Também não sei o que é um Flame Sauce, mas o atendente me diz que é algo “próximo do ketchup”, mas não necessariamente um molho barbecue. Por fim, a aparente distração do redator do menu, com seu informal “Ah! E com nossas fritas também”, devo dizer que é simpático, embora não esteja completamente certo de que tal descuido é desejável em um estabelecimento caro como esse.

Enfim, tá aqui o bicho:

Outback burger

Algumas considerações prévias são constatáveis a olho nu. A batata-frita, por exemplo, é cortada em perfeitos prismas retangulares embora a casca da batata seja mantida. Um novo híbrido entre a batata rústica e a papa belga a que você está acostumado a comer, e ainda por cima, como viria a descobrir mais tarde, é muito boa! Diferentemente da experiência desastrosa do New York Café, aqui a batata é temperada apenas com um pouco de pimenta, se tornando levemente picante, mas de forma alguma comprometendo o protagonismo do prato.

O queijo, por sua vez, é um excelente turn off nesse prato. Uma fatia insossa de queijo processado não era o que você esperaria por um lanche tão refinado como esse. Parte da fatia estava se partindo em uma única e triste listra caindo por cima do resto. Não consigo conceber tamanha desconsideração pelo queijo por parte dos chefs. Gente, botem uma coisa na cabeça: se o sanduíche genérico pelo qual todos pedem se chama Cheeseburger e não, tipo, Bread and Burger ou Saladburger, é porque o queijo se tornou o Jessie Pinkman para o Walter White que é a omnipotente carne. Mais amor, por favor.

O pão dá a tônica do que é o hambúrguer do Outback. Macio como todo o conjunto. Macio, liso e levemente salpicado de farinha por cima, o pão, muito similar ao do JPL é a certeza de que os padeiros australianos são bons e que é possível sempre comer mais um pedacinho. Um interior quente e poroso, repleto de corpos cavernosos para absorver bem os molhos e a umidade da salada, é quase um pão perfeito, ponto alto desse sanduíche.

Aliás, falando em salada, devo dizer que a salada é outro acerto, e olha que pra eu falar isso é realmente algo fenomenal. A alface é ralada, uma coisa muito inteligente de se fazer quando se pretende construir um hambúrguer alto, porque não compromete ainda mais o volume com algo que vai irremediavelmente se deformar quando o glutão-alvo (eu, no caso) pegar com força no pão, e quando os incisivos rasgarem um pedaço para soltá-la dentro da boca. A cebola caramelizada é escassa, o que é uma coisa boa porque quem quer comer uma porrada de cebola em cima da carne come bife acebolado ou carne de onça logo de uma vez e não fica enchendo o saco. Por fim, o tomate é algo digno de nota histórica, porque nunca vi um tomate tão gigantesco quanto o que colocaram dentro do meu hambúrguer. Sério, a rodela inteira era do tamanho da carne, e era um corte generosamente grosso, de maneira que podia se jurar que estava mordendo um hambúrguer vegetal, carnoso e incrivelmente vermelho. Gostoso, mas depois de um tempo encheu o saco.

O bacon também estava surpreendentemente bom. Localizado em uma zona intermediária entre o bacon macio e o bacon crocante, a tira grossa e escura de carne suína temperava o sanduíche de cima para baixo com seu sal e seu gosto defumado, como uma língua de sabor encorpado que depositava suas mais preciosas proteínas por cima do totem lipídico que me encarava.

Por fim, a carne foi uma das melhores que já comi. Quase sempre a carne acaba ficando um tanto aquém do resto da matéria, mas nessa ocasião ela se manteve digna perante o resto, e macia e suculenta sem ser fibrosa nem insossa. Repleta de sucos e com seu cerne intactamente vermelho, ela coroava o meu Smokehouse Burger não apenas com sabor mas com sua textura macia e agradável tanto na entrada quanto na saída, e era levemente empapada pelo tal Flame Sauce que, honestamente me passou despercebido. Por outro lado, não esperaria menos de um lugar que se gaba de saber tratar bem suas carnes. Well played, Outback, well played.

Ah, o Outback é um estabelecimento que se gaba de ter carnes picantes, mas mesmo eu, que sou fraco para pimenta, não senti esse sabor acentuado não. Sei lá, a batata estava mais apimentada. Ainda bem, porque não quero passar a noite bebendo água como daquela vez do New York Café.

Ficha técnica:

Smokehouse Burger

Ingredientes: “Bem ao estilo do Louisiana, com um toque do delicioso Flame Sauce e cebolas grelhadas, que dão a esse novo hambúrguer de 200g um sabor único. Servido com alface, tomate, queijo, maionese e bacon. Ah! E com nossas fritas também!”.

Preço: R$29,90 + Coca-Cola refil infinito por R$6,95.

Ponto alto:  Carne estupenda, pão macio, tomate monstro, alface ralada, bacon sinistro e batatas sinestésicas.

Ponto baixo: Queijo processado chinfrim e, obviamente, o preço, porque ainda não estou convencido de que é legal pagar 30 reais num hambúrguer.

Avaliação: A

O Outback fica no Largo Curitiba do Shopping Curitiba, que por sua vez fica Rua Brigadeiro Franco, 2300, no Batel. Funciona durante o horário de funcionamento do Shopping, obviamente. (41) 3013-7978.

 
1 Comentário

Publicado por em 03/15/2013 em Uncategorized

 

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , , , ,