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Kharina – Kharina Caprese

Quando começamos esse blog, eu sabia, já de antemão, que dois caminhos possíveis seriam trilhados. O primeiro, mais fácil de inferir, é que, assim como na música e no sexo, não há nada de novo debaixo do sol, e meu esforço seria o de qualificar medidas sutis de tempero, preparo, apresentação e afins — o que, realmente, fazemos até hoje. A segunda, um pouco mais improvável, ainda que não de todo impossível, seria vasculhar esta pequena cidade atrás das formas mais esdrúxulas de se montar um pão com carne, e comeria as coisas mais enjoativa (alô, Memphis), bizarras (alô, Fifities!) e horripilantes (alô, Fifities de novo!) que encontrasse pela frente. Felizmente, essa segunda saída de dar continuidade ao nosso nada ambicioso projeto se mostrou muito mais agradável graças à boa vontade criativa de chefs bem intencionados, preocupados sim com a originalidade, mas não apenas. Original por original, o mundo está cheio de desfiles de moda com modelos magérrimas cujas roupas não seriam usadas por nenhuma viva alma. Há um zelo também pelo paladar, o resultado final que é o que vai trazer cliente, oras. Ninguém está aqui para disputar freak shows gastronômicos.

E, quando eu achei que já tinha encontrado uma boa parcela de receitas inusitadas, eis que me deparo, no Kharina, com uma agradável surpresa. Entre a nova linha de hambúrgueres prime, há o curioso Kharina Caprese. Tomates secos e rúcula no meu hambúrguer, ora, por que não?

Bom, diferentemente do Murilo, eu não tenho nenhuma ligação emocional com o Kharina e, quando me mudei para Curitiba, comi algumas vezes lá, tendo me decepcionado em praticamente todas. Não sei, esperava algo de mais qualidade e um atendimento educado, para um lugar que diziam ser tão tradicional na cidade. Mas, eis que visitamos o novo Kharina e tudo mudou. O Kharina entrou oficialmente no ramo das hamburguerias hypes. Lugares confortáveis, funcionários gentis, ambiente limpo, o único defeito foi tocar Los Hermanos. Nada me tira mais do sério do que entrar em um estabelecimento e tocar Los Hermanos. Mentira, tem sim: tocar Engenheiros do Hawaii. A dica é ficar com a boa e velha música Lounge, o único gênero musical feito propositalmente para ser ignorado em conversas. Brincadeira, isso é só implicância minha com os Hermanos, podem tocar o que quiser.

Bom, no jargão da pesca, tá aqui o bicho:

Bom, o Caprese do nome, para quem não sabe, vem da salada caprese, que é uma receita da ilha de Capri, na Itália, pertinho ali do golfo de Nápoles, onde tem os amigos do Roberto Saviano. Basicamente, é uma salada a base de tomate, manjericão e mussarela de búfala. Ou seja, nada a ver com a receita do Kharina, que fez aí sua própria interpretação da saladinha. Ao invés do manjericão e da alface, rúcula, e ao invés do tomate, tomate seco, que é igual a tomate, mas é seco (ah, vá!). Bom, tudo bem, confesso que não sou o maior dos experts em salada e suponho que essa seja uma variação válida da salada caprese original.

Começando então pela explicação do prato, a salada. A grande sacada do Kharina nesse sanduíche foi o tomate seco. Longe de ser um alimento intragável ou sem sabor, o tomate seco foi incorporado a uma pasta de queijo absolutamente deliciosa. Claro, tomate e queijo sempre recende um pouco a pizza, mas é aí que entra a carne para tirar essa estranha impressão de estar comendo pizza no lugar de hambúrguer. O antagonista dessa história fica logo acima da carne, porém. A rúcula. Bom, rúcula é como filme em 3D. As pessoas pagam mais caro por uma parada que ninguém gosta de verdade. Posso estar sendo generalista, mas nunca vi ninguém dizendo “nossa, como eu adoro rúcula. Que fome, que vontade de comer uma rúcula bem verdinha agora”. As pessoas geralmente reclamam da amargura da plantinha, que, ali no conjunto, soa muito como uma alface lisa, tirando boa parte do gosto do lanche, o que é uma pena. Comecei comendo bem intencionado, mas da metade pro fim, tirei o resto das rúculas do pão e deixei para escanteio. Pode ter sido a quantidade também. Abundância de mato no meu hambúrguer é como música do Caleidoscópio: tem que viver, valer, viver, valer, valer, viver.

Passemos então, aos periféricos. De fora pra dentro, temos, antes de tudo, as batatas. Bom, as batatas são bem boas e vem numa quantidade “ok”, nem muito, nem pouco. Duas coisas, entretanto, se fazem necessárias dizer, referentes ao acompanhamento do acompanhamento. A primeira, menos importante, é a decoração do prato. Uma fina linha de vinagre balsâmico orna um dos lados do prato quadrado (prato quadrado, taí uma coisa que quero ter em casa quando for bem rico. Mas só quando for bem rico, porque prato quadrado em casa de pobre fica parecendo cenário suprematista da TV Cultura). Um ornamento bonito, mas inútil. Por favor, não tente comer batata frita com vinagre balsâmico, vai ser desastroso. Ao invés disso, poderiam fazer como os mestres do Rock’a Burger e decorar com barbecue. Tudo bem que é um pouco mais caro, mas vocês já tão cobrando caro pela bagaça, melhor botar algo que o pessoal vai gostar de comer. A outra ressalva é um pouco mais grave, que é o molho que acompanha o prato, uma maionese a base de alho, eu acho, uma coisa tenebrosa mesmo. O que é uma pena, porque maionese com batata frita é uma tradição que ainda queria ver exportada de Benelux para essas paragens. Poucas coisas são mais prazerosas do que afogar uma batatinha num potão de maionese e comer, exceto quando o potão de maionese tem gosto de alho e você fica com aquele bafão gostoso de alho que causa tantas guerras no oriente médio.

O pão sim, esse é algo digno de nota. A galera das hamburguerias já percebeu que não adianta só dominar a arte da carne, é imperativo também ter a maestria sobre o pão. E olha, o pão do Kharina é melhor do que o pão da padaria em que eu compro pão quando quero comer pão em casa. E isso é algo notável, porque a padaria aqui de casa é mestre. Crocante sem ser seco, macio por dentro sem ser massudo, aerado o suficiente sem ser seco, algo para poucos e bons. O molho de tomate seco e os sucos da carne (bem mais escuros do que o normal, por sinal), entram bem no miolo, deixando um gostinho do lanche todo apenas no pão.

E por último, a doce e mortífera carne. Mais escura do que o normal (isso costuma ser uma coisa boa para mim, sempre me lembro do Bife Negro do Tenessee que meu pai fazia lá em casa), a carne tem aquele enigma do Madero: consegue ser suculenta sem, necessariamente ser rosada e quase crua por dentro. Salgada no ponto, entra fácil no top 10 das carnes boas das hamburguerias da cidade.

No geral, o Kharina Caprese é um excelente sanduíche rodeado de pequenos erros. Felizmente, o que realmente importa está salvo e garantido. Saí de lá com a certeza de que sonharia com esse molho de tomate seco, mas igualmente aliviado de não ter mexido muito nessa maionese de alho.

Ficha técnica:

Kharina Caprese

Ingredientes: “Recheado com um delicioso creme feito de tomates secos, coberto com rúcula. Acompanha maionese especial Kharina”. Obviamente vem com pão, carne e batatinha também. Duh.

Preço: R$17,50. Ainda tô ponderando se isso é caro ou tá no preço. Vou dar o benefício da dúvida dessa vez.

Ponto alto: A carne é deliciosa, o pão é impecável e a pasta de tomate secos deveria ser vendida em potes de 1kg.

Ponto baixo: Maionese horrorosa, a rúcula e o vinagre balsâmico dispensável.

Avaliação: B+

Tem alguns Kharinas espalhados pela cidade, esse que fomos fica na Rua Benjamin Lins, 765, no batel. (41) 3024-1253.

 
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Publicado por em 09/13/2012 em Uncategorized

 

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